Resenha: Suicidas, Raphael Montes
- Rapha
- 25 de abr. de 2018
- 4 min de leitura
A "grande cartada" é para os homens de sorte e o "grande blefe", para os homens de coragem.

“Zak passou a flanela pela arma, limpando o cilindro giratório, a empunhadura e o cano. Então, escolheu uma das balas. Colocou-a em uma das oito câmaras, guardando as restantes no bolso. Levantou os olhos, percebendo que todos nós o observávamos, e arqueou as sobrancelhas. Num movimento ágil, girou o tambor e – antes que alguém pudesse enxergar em qual câmara estava a bala – fechou-o no revólver, fazendo um clique metálico. Com um sorriso no rosto, sacudiu a arma carregada no ar. É hora de começarmos.”
Nove jovens universitários, muitos da elite carioca, reúnem-se no porão da casa de campo de um deles. Todos diferentes entre si, apenas um sentimento em comum: o de tirar a própria vida. E nada melhor que jogar roleta-russa para resolver essa questão. Enquanto eles enchem a cara e se entopem de drogas, um a um o revólver vai escolhendo como perdedor (ou não) da rodada.
Meninas, que livro! Eu já estava a muito querendo ler Raphael Montes; em minhas buscas insaciáveis atrás de terror-psicológico-que-não-dê-tanto-medo-assim-pois-sou-cagona, acabei encontrando o livro de suspense Vilarejo, que consiste em vários contos que se interligam no fim. Eu, que amo um livro de contos, já adicionei à lista de desejados e prometi a mim mesma comprar depois.

Então, num belo dia em 2017, umas amigas dormem aqui em casa e a gente começa a falar sobre livros (adoro). Logo minha amiga começa a contar sobre um livro que a deixou muito mal (tanto que ela foi pausando a leitura e demorou um ano ou mais), mas ao mesmo tempo ela gostou muito. Este não era ninguém menos que o Suicidas, escrito, veja só, pelo mesmo autor que eu estava buscando tempos atrás.
Apesar de todas as coisas horrendas que ela falou que o livro tem, fiquei muito interessada em ler; por ser do Raphael, e por perceber que não me deixaria com medo (importante). Desde lá venho a atormentando para me emprestar, até que finalmente o li. Ele, que tem próximo de quinhentas páginas, foi lido quase que pela metade só numa sentada de ônibus, sério. É aquele tipo de livro que te prende até você engolir ele, ou ser por ele engolida.
O enredo segue por três focos narrativos: a delegada Diana com as mães dos jovens falecidos (sim, a história começa após um ano da tragédia em que nove adolescentes foram encontrados mortos num porão) fazendo uma espécie de releitura do crime – até então com pontas soltas – a partir de novas pistas encontradas; o diário de Alexandre (um dos jovens mortos), que seria o rascunho para um livro que ele estava escrevendo no momento do jogo, e sua própria narrativa em primeira pessoa algumas semanas que antecedem o acontecido.
A gente já começa sabendo que todos eles estão mortos, mas mesmo assim isso não torna mais fácil aquele sentimento de torcer para que tudo acabe bem no final. Contendo estupro, tortura, mutilação e tudo mais que há de ruim, esse é um livro difícil de lidar (dei uma pausa de uns três dias para acabar não ficando louca), e talvez não muito recomendado para aquela sua prima de 13 anos que amou assistir It, do Stephen King.
Mesmo assim, o livro é ótimo. Como já falei, prende. A narrativa do livro escrito pelo Alexandre é uma das mais tensas, que te faz toda hora querer ler a última linha da página para saber logo o que aconteceu. E o esquema de ir alternando o tempo-espaço do enredo me deixava muito ansiosa, já que os capítulos sempre acabam nos famosos ganchos que você simplesmente PRECISA ler o próximo.

Tem os personagens que você já começa odiando, e tem os que você ama logo de cara. E claro que ninguém ali presta, mas eu queria muito salvar alguns a todo custo e acreditar cegamente que tudo ia dar certo no final. Há há há, mais iludida que eu não existe.
Raphael Montes é tudo o que eu esperava e muito mais. Um autor jovem, publicou este livro com apenas 22 anos (eu aqui com 20 mal sei fazer uma assinatura decente), e que merece muito mais destaque do que recebe. Ele já tem uma caralhada de livros todos no mesmo estilo, e eu só quero comprar todos. Sai recomendando Suicidas até pro cachorro da vizinha, porque esse é o tipo de livro que você precisa comentar e analisar e até reler pra ver se pegou tudo mesmo.

E acabei não falando com muitos detalhes sobre a história em si, porque acredito que o mais gostoso é ir construindo-a aos poucos à medida que sua leitura avança como parece ser do desejo do autor. O único pressuposto de que você parte é da morte deles, e mesmo isso consegue te surpreender quando enfim acontece. Sem mais, um livro que fortemente (em negrito, maiúsculo e sublinhado) recomendo. E se nem mesmo assim te convenci, fique com esse trecho que para mim ilustra bem a tensão do livro, tirando seu fôlego:
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