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Livro x Filme: O Sol é Para Todos, Harper Lee

  • Foto do escritor: Rapha
    Rapha
  • 13 de fev. de 2018
  • 4 min de leitura

Atualizado: 4 de mai. de 2018

A maldade e as injustiças do mundo visto pelos olhos de uma criança.


“Quando eu estava com quase seis anos e Jem com quase dez, nossas fronteiras no verão (ou seja, à distância de um berro de Calpúrnia) eram a casa da sra. Henry Lafayette Dubose, que ficava duas propriedades ao norte da nossa, e a Residência Radley, três casas ao sul. Jamais ficávamos tentados a ultrapassar esses limites. A Residência Radley era habitada por uma figura desconhecida, cuja mera descrição bastava para ficarmos comportados por dias a fio. (...) Foi nesse verão que conhecemos Dill.”


Jean Louise Finch, que por algum motivo (que eu ainda não entendi) leva o apelido de Scout, vive em Maycombe, cidade sulista dos Estados Unidos, junto de seu irmão mais velho Jeam, seu pai a quem chama de Atticus, e Calpúrnia, sua cozinheira. Sua mãe morreu quando era bem mais nova, então quase nem se lembra dela. Passa todos os dias do verão se preocupando apenas em qual será a próxima brincadeira, e as novidades de sua pataca cidade se resumem ao novo vizinho deles e se o assustador Boo Radley saiu de casa (se é que ele ainda está vivo).

Olha as caras de anjinho, nem parece que tocam o terror


Seu pai Atticus é advogado, e foi escolhido para defender Tom Robson, um homem negro acusado de estuprar uma moça branca. Vira rebuliço por toda a cidade, que na década de 30 (e infelizmente muitos são até hoje) era racista e nem cogitava que os negros poderiam ser seus semelhantes.


O livro é narrado pela Scout, essa garotinha sapeca que muito lembra a Emília do Sítio do Pica Pau Amarelo. Ela começa a ir para a escola, e logo já aprende com a nova professora que Atticus a ensinou ler errado (ele sempre chega de noite e fica com ela lendo o jornal). Ela também precisa lidar com os colegas maldosos que ofendiam a 'honra' de seu pai, se esforçando muito para não descer a porrada neles.


“– Atticus, o que é exatamente um admirador de pretos ? – perguntei. – Alguém chamou você disso ? – ele ficou sério – Não, a sra. Dubose disse que você é. Toda tarde ela repete isso. Francis me chamou disso no Natal passado, foi quando ouvi pela primeira vez. – Foi por isso que brigou com ele ? – Foi, pai... – Então por que está perguntando o que significa ? – Foi como se ele me chamasse de melequenta ou algo assim. – Scout, admirador de pretos é uma dessas expressões sem sentido, como melequenta. É difícil explicar: pessoas ignorantes, sem valor, falam isso quando acham que alguém está pondo os negros acima delas. Passou a ser usada por gente do nosso meio para rotular alguém de uma forma feia e vulgar. – Mas você não é admirador de pretos, é ? – Sou, sim. Eu me esforço para gostar de todo mundo... De vez em quando, é muito difícil. Querida, não se importe de ser chamada de algo que as pessoas acham que é um insulto. Isso só mostra como essa pessoa é mesquinha e não a atinge. Então não se deixe abalar pela sra. Dubose.”


O livro todo vai contando mais sobre a infância e perspectiva da Scout, e a gente só fica sabendo mesmo sobre o caso no final, que é quando acontece o julgamento. Até lá, Scout nos entretém com a história de Maycomb e suas brincadeiras de verão, além do mistério que envolve toda a Residência dos Radley.


O ritmo é um pouco lento e a leitura é tranquila, mas nada que vá te fazer largar o livro. Achei que ficaria com sono na parte do julgamento mas foi quase como assistir um episódio de How to Get Away With Murder, e me vi querendo mais. Claro que Scout não achou nada disso, e pensava o tempo todo como os homens demoram para decidir as coisas e até cochilou no final.


Eu tinha visto um trailer do filme em que a Scout estava de vestido e já pensei o pior: "essa não! Descaracterizaram minha personagem! Esse filme vai ser um fiasco." Até que não; lançado em 1963, ganhou uma caralhada de Oscars e Globos de Ouro, além de várias indicações. O Oscar de Melhor Roteiro Adaptado foi nada mais que justo, parecia que eu estava relendo o livro de tão parecida que eram as cenas/diálogos. Ele também é em preto e branco, dando um toque de filme antigo.


Um único ponto negativo foi que, em minha opinião, o filme seguiu uma narração mais em terceira pessoa, mostrando várias cenas e pontos de vista de outros personagens além da Scout, o que no livro não acontece. A "graça" é que tudo acontece pela visão dela, e no filme isso é deixado mais de lado (inclusive a atriz Mary Badham ganhou indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante). Mas continua sendo um ótimo filme trazendo importantes questões sobre racismo e preconceito, além de moralidade e justiça.

"Existem muitas coisas feias nesse mundo, filho. E eu gostaria de manter vocês longe de todas elas. Isso nunca é possível."


Essa história me lembrou O Meu Pé de Laranja Lima, que também é narrado por uma criança (Zezé) e conta suas visões de mundo. Eu me apaixonei pelo jeitinho de Scout, uma 'mocinha crescida', mas que odeia usar vestidos, e vive com a cara suja por ai. Suas dúvidas e conversas com os mais velhos dão um toque maravilhoso ao livro.


O Sol é Para Todos tem um pouco de autobiografia, uma vez que a autora Harper Lee morou no interior do Alabama e cursou direito (assim como seu pai); além de que Dill, vizinho da Scout, ser ninguém menos que o escritor Truman Capote (Bonequinha de Luxo). O filme tem na Netflix então corre la pra assistir, vale super a pena.

Scout (Mary Badham) e Harper Lee



Trailer:



Nota do livro: ✯ ✯ ✯ ✯ ✯

Nota do filme: ✯ ✯ ✯ ✯

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