Livro x Filme: Uma Dobra no Tempo, Madeleine L'Engle
- Rapha
- 25 de jul. de 2018
- 4 min de leitura
"O normal é que, independente do que acontecer, as pessoas sempre vão achar que a culpa é minha, mesmo que eu não tenha nada a ver com a situação."

"O silêncio era a mesma coisa. Aquilo era mais que silêncio. Surdos conseguem sentir vibrações. Ali, não havia nada a sentir. De repente ela percebeu que seu coração batia rápido dentro da caixa torácica. Ele havia parado? O que o fizera retomar a batida? O formigamento nos braços e nas pernas começou a ficar mais forte e, de repente, ela sentiu um movimento. Ela sentia o que devia ser a Terra girando, rotacionando em seu eixo, fazendo sua jornada elíptica em torno do sol. E esta sensação de se movimentar com a Terra era similar à sensação de estar no oceano, à deriva no mar e além do subir e descer da rebentação, boiando sobre a água em movimento, pulsando delicadamente com as cheias e sentindo a atração suave e inexorável da lua. Estou dormindo; estou sonhando, pensou. É um pesadelo. Eu quero acordar. Me deixem acordar."

Meg Murry (que no filme é interpretada pela coisinha mais linda chamada Storm Reid) perdeu seu pai: o dr. Murry (Chris Pine) está desaparecido há quatro anos, e a menina, que sempre foi muito apegada a ele, passa dificuldades na escola por ter problemas de atenção e não conseguir se relacionar com os colegas. Meg parece ter um desenvolvimento diferente das crianças de sua idade, e os professores e alunos de sua escola estão sempre comentando sobre. Ela não se importa tanto, mas fica muito irritada quando envolvem o seu irmãozinho Charles Wallace no meio, que sempre parece saber de tudo, mas é diferente daquilo que conhecemos como normal.

Numa horrenda noite de tempestade (quase como a noite em que Doroty de O Mágico de Oz perde sua casa para um tornado) Meg acorda assustada e nervosa, pensando no dia ruim que teve. Incapaz de dormir com o vento ameaçando arrancar seu teto, ela desce até a cozinha, onde encontra Charles Wallace tomando leite. Ele, prevendo que a irmã desceria, colocou uma caneca no fogo pra ela também.
O medo da tempestade, que depois tira também a dra. Murry (Gugu Mbatha-Raw) da cama, foi deixada de lado quando chega na casa uma visita inesperada (menos para Charles Wallace) no meio da noite da Sra. Quequeé (Reese Witherspoon), uma estranha vizinha conhecida pelo menino, que mora numa casa velha na floresta, junto com suas outras amigas; a Sra. Quem (Mindy Kaling), que adora citar frases de efeito e suas referências, e a Sra. Qual (Oprah Winfrey), a mais velha delas, que tremula por aí tanto sua imagem quanto sua voz.

A estranha visita fica cada vez mais estranha; a Sra. Quequeé e Charles Wallace conversam normalmente sobre ela ter roubado os lençóis de outra vizinha, enquanto a dra. Murry e Meg tentam entender tudo aquilo. Até que antes de ir embora, a Sra. Quequeé relava à dra. Murry que o tesserato existe, e deixa a casa tão repentinamente quanto entrou.
Meg percebe que a mãe ficou muito abalada com a notícia, mas acorda no outro dia pensando que tudo não passou de um sonho. Claro que mais uma vez ela se engana: após outro péssimo dia no colégio, Charles Wallace a leva até a casa das estranhas senhoras, na companhia agora de Calvin (Levi Miller), um menino da mesma escola que Meg, mas mais velho. Segundo ele, se sentiu chamado por alguém, e terminou por seguir os irmãos até a casa.
A questão é o seguinte: as três novas amigas de Charles Wallace vão ajudar a trazer o dr. Murry de volta, com a ajuda de Meg. O pai da menina, antes viajando pelo tempo-espaço, se perdeu ao encontrar e tentar lutar com a A Coisa Escura. As crianças então partem para a jornada de resgate.

O filme estreou esse ano, e é lindo! Deveria ter ido no cinema, valeria a pena gastar uns reais a mais para ver certas cenas em 3D. E é todo colorido e iluminado. Temos umas criaturas bem bizarras no livro, e acredito que o filme ilustrou bem todo o cenário de fantasia e aventura.

Falando um pouco sobre os personagens, Charles Wallace é um muito difícil de se explicar. O curioso irmão mais novo de Meg, que era apenas um bebê quando o pai sumiu, age, pensa e fala como um adulto. Como falei ali em cima, ele sempre parece saber o que está acontecendo, o que te deixa com muita raiva, porque esse é um livro em que você nunca parece saber o que está acontecendo. No filme é um bebezinho lindo e fofo chamado Deric McCabe e eu faria qualquer coisa por ele.

Vou mais que elogiar também a atuação do Levi Miller, e observar como esse menino cresceu desde Peter Pan!!!! Um pouco mais apagado que o Calvin do livro, Levi no filme parece estar ali só para apoiar a Meg e achá-la fantástica em tudo (é até engraçado). Mas é um crush bem bonitinho e ele também tem muita carinha de bebe, então a gente dá um desconto.

As Senhoras também são maravilhosas (não esperava menos dessas três grandes atrizes)!!! Cada uma com sua personalidade peculiar, e seu jeitinho engraçado, consegui gostar delas BEM MAIS do que no livro. Talvez porque eu já tinha uma prévia, afinal, falando sério, esse livro me deixou muito confusa.

Eu era a Meg: o tempo todo frustrada por não entender nada, e com raiva de todo mundo. Mas no filme não; levei bem de boa, só uma fantasia mesmo, pra curtir a tarde. Mas a história tem muitas mensagens lindas: as mais variadas formas de amor, que não precisa ser só entre casais; as lideranças femininas das senhoras; e com inspirações até mesmo na dra. Murry, cientista inteligentíssima (e o livro foi lançado em 1960), envolvendo as meninas no campo da ciência. Uma obra mais que importante no gênero de ficção científica infanto-juvenil, recomendo!

Trailer do filme:
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