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Resenha: A Metamorfose, Franz Kafka

  • Foto do escritor: Rapha
    Rapha
  • 12 de jan. de 2018
  • 3 min de leitura

Atualizado: 4 de mai. de 2018

Porque nem toda mudança vem para o bem.


"Que vida tranquila parece levar minha família, pensou Gregor. E enquanto seus olhos se cravavam na sombra sentiu-se orgulhoso por ter podido proporcionar a seus pais e irmã tão sossegada existência, em um lugar tão lindo. Com pavor pensou no mesmo instante que aquele bem-estar e aquela alegria chegariam ao fim..."


Gregor Samsa, nosso protagonista, trabalha viajando e sustenta sua família, composta por seu pai, sua mãe e sua irmã mais nova, por quem sente grande afeto e compartilham uma ótima relação. Mas essas informações o narrador te entrega depois. A primeira coisa com que se deparamos no livro é que Gregor acorda e percebe que virou um inseto gigante.


Sim. Locura total. A gente mal começa já não entendendo nada. Mas Gregor, sendo um belo exemplo de pessoa que ele é, está mais preocupado em perder o trem que vai levá-lo a um compromisso do trabalho do que com sua situação em si, que são várias patinhas viradas pra cima tentando se acalmarem.


Este é aquele livro para ler-se em uma sentada no sofá (ou na cama, como no meu caso), com poucas páginas e linguagem tranquila. Mas mesmo assim, não foi pra mim. Achei a história muito detalhada em coisas que, a meu ver, não eram relevantes. Além de achar a família do Gregor bem chata e entediante.


Aparentemente o livro apresenta uma metáfora à própria vida do Kafka, que tinha uma péssima relação com o seu pai como ele demonstra em Carta ao Pai (literalmente uma carta destinada ao seu pai que nunca chegou a ser enviada mas foi publicada depois de sua morte) aonde ele condena a tirania exercida pelo pai ao longo de toda sua vida.


Kafka também era uma pessoa muito tímida e, apesar de seus conhecidos afirmarem que se tratava de uma pessoa agradável, ele tinha certo receio de ser desprezado pelas pessoas (daí a ideia do inseto, que causa repugnância em todos que o vê). Tendo esse pano de fundo, consegue-se tirar muito mais da história.


“A irmã não se preocupava já em imaginar o que mais havia de lhe agradar; antes de partir para seu trabalho pela manhã e à tarde empurrava com pé qualquer comida para o interior do quarto e depois, ao retornar, sem reparar seque se Gregor tinha experimentado a comida – o que era mais freqüente – ou se nem sequer tinha tocado, recolhia os restos com uma vassourada. A arrumação do quarto, que sempre se fazia à noite, não podia também ser mais rápida. As paredes estavam cobertas de sujeira e pó e o lixo amontoava-se nos cantos.” Nesse trecho já nos deparamos com o tom melancólico que o livro assume mais no final, ilustrando uma possível depressão de Gregor e como sua família lida com ele.


Eu senti falta de mais partes focadas no Gregor. Sim, a situação gira em torno dele, mas é como ele só estive ali de expectador, apenas presenciando como sua família reage diante de sua estranha doença (?) e como tudo muda por isso. Talvez essa seja a grande sacada do livro: assistir as pessoas próximas a você de repente se afastarem pela sua nova condição, e não poder fazer nada para evitar.


Um ponto legal do livro é que o autor não descreve exatamente a metamorfose de Gregor no começo, deixando o leitor imaginá-la no que seria o mais nojento possível pra si. Vi uma menina comentando que imaginou uma pessoa desfigurada, e achou o livro incrivelmente triste pegando do ponto que ele é julgado e afastado por ser assim.


Eu curto ler muitas opiniões quando não gosto de um livro pra quem sabe abrir minha cabeça pra um detalhe que deixei escapar ou até mesmo me dar vontade de reler um dia. Se por acaso eu te desanimei nesta leitura, saiba que Gregor aprende a escalar paredes e o teto, o que me divertiu bastante quando estava lendo, vai lá conferir.



Nota: ✮✮✮

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