Resenha: Vá, Coloque um Vigia, Harper Lee
- Rapha
- 15 de mai. de 2018
- 2 min de leitura
Os homens costumam compartimentalizar a honestidade. Podem ser absolutamente honestos em um sentido e se enganar completamente em outros

Apesar das controversas, temos aqui a sequência de O Sol É Para Todos, trazendo uma Scout agora adulta, que mora sozinha e estuda em Nova York, visitando Maycomb e sua família apenas nas férias. O livro, dividido em várias partes, conta sua história a partir de uma dessas temporadas que ela volta ao antigo lar, e como tudo aquilo, mesmo que ainda igual ao que sempre foi, se tornou tão diferente pra ela.
Somos apresentados a novos personagens, como Hank: possível namorado/noivo de Scout? Nem ela sabe dizer. Bem carismático e educado, o jovem que ganhou o coração da nossa principal teve uma origem bem humilde e foi trabalhando para conquistar seu lugar na cidade, e agora trabalha como advogado junto ao pai dela, Atticus Flinch.
Este também está diferente do primeiro livro: beeeem mais velho, caindo aos pedaços (nem tanto), o coitado está sofrendo de artrose e precisa da ajuda da irmã Alexandra, agora morando com ele, para as tarefas mais simples como abotoar as camisas.
Um livro relativamente curto, diferente do anterior que aborda vários aspectos e histórias antes de enfim chegar ao dia do julgamento, Vá, Coloque um Vigia tem bem menos profundidade. Tantos outros personagens que não serão inclusos e só citados me deixaram com muita saudade.
Envolto de muitas suspeitas, o livro ainda é alvo de questionamentos sobre sua legitimidade, uma vez que foi escrito e lançado muito tempo depois do primeiro, numa época em que a Harper já estava debilitada de saúde, além de possuir o que parecem ser capítulos soltos que encaixariam muito bem no O Sol é Para Todos (o que explica o porquê de um livro curto desses ser divido em tantas partes). Quem busca aqui uma sequência do primeiro acaba se decepcionando um pouco.
É um livro que te faz duvidar sobre muita coisa que aconteceu no original, e deixam muitas pulgas atrás da cabeça. Achei que ficou muita coisa no ar, e o que precede o clímax não se torna assim tão interessante, apesar da leitura ser fácil. Eu gostei porque já conhecia Scout e seu jeitinho sapeca e encantador, mas para alguém que nunca leu o primeiro livro pode não ter tanta paciência.
Não deixa de ser bom; são muito importantes as questões que o livro traz sobre o racismo ainda enraizado na região Sul dos EUA e o forte amadurecimento da personagem principal, que não é mais uma garotinha endiabrada de pés sujos e macacão correndo pela rua: agora ela usa sapatos e vestidos.
Para quem já leu O Sol é Para Todos, deixo aqui o vídeo da Tatiana Feltrin sobre as polêmicas discussões que envolvem essa sequência:
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