Resenha: A Rainha Vermelha, Victoria Aveyard
- Rapha
- 1 de abr. de 2018
- 5 min de leitura
Atualizado: 4 de jul. de 2018
Uma sociedade dividida pelo sangue.

“Kilorn e eu não vemos as Efemérides da Primeira Sexta com os mesmos olhos. Para mim, assistir a dois campeões se digladiando não é nada agradável, mas Kilorn adora. “Deixe que se destruam”, diz. "Não são nossa gente". Ele não entende o que são esses shows. Não se trata de um simples entretenimento, um descanso para nosso trabalho cansativo. É uma mensagem fria e calculista. Apenas prateados podem lutar na arena porque apenas eles podem sobreviver à arena. Lutam para nos mostrar sua força e seu poder. "Vocês não são páreos para nós. Somos melhores. Somos deuses"; é isso que cada golpe dado pelos campeões quer dizer."
Mare Barrow tem 17 anos, e quando completar os seus 18, será enviada para a guerra. Tudo isso por conta da cor do seu sangue: vermelho, ruim, sujo, desprezível e insignificante. Milhares de jovens como ela há anos são arrancados de suas famílias e dão suas vidas no capo de batalha. Seu mundo é dividido entre os plebeus vermelhos, miseráveis em sua vida sofrida; e os nobres prateados, divididos em casas, aonde cada família apresenta um poder sobre-humano que os fazem deuses.

Ocupando-se de roubar para garantir o sustento e a sobrevivência de sua família, e odiando com todo o seu ser os prateados em seu tempo livre, Mare acaba se metendo em confusão (nada de novo para ela), mas desta vez indo trabalhar para o rei no palácio! E, para piorar, descobre que possui poderes, mesmo sendo uma vermelha, desconhecidos por ela mesma.

Antes de iniciar a resenha propriamente dita, quero citar uma amiga minha que sabiamente me aconselhou com tais palavras: “quando se estão falando bem de alguma coisa, é sempre bom ver quem está falando”.
Pois é, crianças, eu estava louca para ler A Rainha Vermelha. Quer dizer, olha essa capa! Simples e mesmo assim toda trabalhada no glamour. Espero de coração que o/a designer tenha sido bem recompensado/a (aliás salvei várias imagens bonitinhas do tumblr para colocar aqui). Fora que toda essa ideia de prateados vs vermelhos chama muito a atenção, poderes e tals (eu gosto muito de xmen então confesso que essas habilidades sobre-humanas me deixou curiosa).
Pra começar, Mare é um porre. Mas um porre muito grande. Não me cativou em nenhum momento da narrativa. Não serve nem para aqueles personagens que a gente ama odiar. Não. É só uma chata mesmo. Mais de uma vez queria que ela morresse pra acabar logo com isso.

Aliás, pensando bem agora, 90% dos personagens são assim: chatos. Claro que Mare conhece os príncipes, e é claro que os dois se apaixonam por ela; ok, um clichê não mata ninguém. Mas esse não é o problema. Está longe de ser.
Cal, o nosso team 1, o herdeiro, o próximo Rei, o maravilhoso de cabelos escuros, que dança bem, que é engraçado, ágil em batalha, poderoso, gentil, disciplinado, esperto, perfeito, e tudo mais que há de bom no mundo, é um pé no saco. Sabe aquele personagem que se acha a última bolacha do pacote? Ele mesmo. Quando eu vi que a Mare tava gostando dele, já fiquei com 5 pés atrás pra esse livro.
Maven, o team 2, segundo filho, que cresceu à sombra do irmão, mesmo bobinho e fraco, consegue ser mil vezes melhor. As passagens dele com a Mare são bem bonitinhas, e mesmo se acabasse só em amizade estava ótimo pra mim.
Ainda assim, a gente supera. Afinal, o que é um triângulo amoroso ruim quando se tem como cenário poderes loucos, realezas, batalhas e tudo mais? Ah, queria eu que a história se sustentasse, mas nem isso ela conseguiu. Depois de enfrentar uma chatisse romântica, você é obrigado a engolir um enredo mal contado, com pressa em detalhes vitais, porém com demoras em ‘o tipo de roupa que cada personagem na sala vestia’. A gente quer saber sobre as batalhas, sobre as lutas; mas só o que chega são as intrigas (totalmente previsíveis) do palácio.

Talvez eu devesse ter me preparado melhor, afinal não sabia que o livro era tão infanto-juvenil assim. Mas eu gosto muito de fantasias, e nem sempre elas precisam de toda uma complexidade para agradar. Aqui o que eu vi foi muito barulho pra pouca coisa. Até a crescente revolução e o lado político da história foi bem raso e empurrado para o final, e para o próximo livro. Não faz nem cócegas.
E dona Victoria, querida autora. Aqui na sua mini biografia do meu livro, me contaram quem você ama, parafraseando, “combinar seu amor por história, explosões e heroínas fortes na sua escrita.” Longe de mim querer tirar suas explosões narradas; realmente contei mais de três ao longo de todo o livro, você realmente deve amar. Agora, heroínas fortes? Ah, segura meu poodle.
Esse livro é uma festa da salsicha. Eu contei num total de UMA personagem, a destemida Farley. Fora ela, TODAS as outras mulheres se odeiam entre si, ou são prejudicadas por elas mesmas. Sim, um pouco de ódio não faz mal a ninguém, mas só consegui ficar enojada ao ler que as mulheres são horríveis umas com as outras, enquanto os únicos nobres de espírito e de bons corações que merecem nossa atenção são homens. Definitivamente um livro que você deve manter longe de suas crianças.

“Ah, mas você vem cagando ideologia na idéia dos outros” sim, a resenha é minha e eu falo o que eu quiser. Um livro infanto-juvenil que fala pra uma menina de 9 a 16 anos que todas as mulheres são ou mesquinhas, ou fofoqueiras, ou ingratas, ou conspiradoras e devem se odiar e competir entre si naturalmente, ao invés de ensinar o oposto é um total desserviço à luta dos direitos iguais, mais conhecida como feminismo. A gente até considera quando a obra é antiga e arcaica, feita no tempo da bolinha.
Agora, amores, século XXI né; não sou obrigada. Mesmo em seu tema de castelos, príncipes e princesas, a história tem um pé contemporâneo, recheada de avanços e tecnologias (inclusive o príncipe perfeito tem uma moto; imagine seus belos cabelos ao vento, é mais um ponto pro currículo dele). Custava incluir personagens mais condizentes com a nossa realidade?

Por enquanto, têm mais três livros da série: um de contos e os outros que dão sequência ao A Rainha Vermelha. Ambos com capas maravilhosas, da vontade de pendurar num quadro ou usar de plano de fundo no celular. Mas não lerei, obrigada. A experiência não foi das melhores, se aproximando talvez das piores. Eu devo ter colocado muita expectativa nesse livro (que, aliás, foi um presente, então me sinto meio cobra falando tão mal assim).

Uma vez eu li que nada mais une duas pessoas do que falar mal de uma terceira pessoa, e acabei concordando. O ódio une e motiva as pessoas assim como o amor ou qualquer outro sentimento ‘bom’. Tanto que se me pedirem mais 100 motivos para odiar essa história, eu escrevo. Mesmo assim, sei que muita gente gosta. Vai ver eu li no momento errado. Vai ver estou exigindo muito de um livro infantil; que essa adulta chata vá ler outra coisa. Quem sabe? A minha opinião você já tem, agora corra atrás da sua.
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